
É a maior tentação de toda a Imprensa sempre que chega o final do ano. Fazem-se análises, ouvem-se júris, pesquisam-se notícias e finalmente anunciam-se com honras de primeira página as figuras do ano. Mandela, o Papa, Snowden ou o Tribunal Constitucional? O eterno dilema. Para mim, não há dúvida. Escolho sem hesitar o cidadão anónimo português.
Este foi o ano de todos os sacrifícios para Portugal. Homens e mulheres, que tudo aguentaram sem vergar e que, mesmo perante as más notícias sucessivas, levantaram sempre a cabeça e nunca desistiram. Foi o ano dos grandes enganos, das inqualificáveis traições mas também dos heroicos combates de rua. Na frente de tudo isto esteve sempre o cidadão anónimo. Aquele que nunca procurou protagonismo fácil, nem utilizou a sua dor e miséria em benefício próprio.
Falo daquele que sofreu, que lutou, protestou ou emigrou, mas que nunca quis mais do que apenas justiça. O que apareceu quase sempre perdido no canto de uma fotografia de jornal ou por puro acaso nos diretos das televisões. O anónimo que quer continuar anónimo mas que não desiste de ser ouvido e respeitado por quem tem responsabilidades neste país. Aquele que não quer ser confundido com os que estão ao serviço dos sindicatos, partidos, ideologias, movimentos ou fações. O verdadeiro anónimo que grita, protesta, luta e sofre em nome próprio, e que não precisa que falem por ele sob disfarces de um símbolo ou de uma qualquer sigla. Aquele que não quer ser utilizado por quem está no poder e muito menos por aqueles que apenas lá querem chegar!
Dinheiro Vivo online | Sábado, 28 Dezembro 2013