
Ponte de Lima. Homem que matou mulher com sete tiros à queima roupa conhece a sentença a 21 de Janeiro. Crime ocorreu na Suíça
PAULO JULIÃO, Viana do Castelo
O emigrante português que terá assassinado a ex-mulher na Suíça com sete tiros à queima-roupa arrisca-se a pena máxima, caso o tribunal de Ponte de Lima dê como provada a premeditação do crime, ocorrido em julho de 2012. A decisão do tribunal, sobre um crime que chocou aquela vila minhota, de onde ambos eram naturais, está agendada para 21 de janeiro. No entanto, o Ministério Público, que deduziu a acusação de homicídio contra José Luís Carvalho, de 36 anos, e que confessou o crime, apesar de reconhecer a "especial censurabilidade", não deu como provada a premeditação, apontando a hipótese de que os sete tiros tenham sido disparados devido à discussão entre ambos, num parque de estacionamento na Suíça.
No mesmo sentido, a defesa do português, encarregado de obras e que estava imigrado na Suíça, com a mulher, desde 1998, admitiu que tudo aconteceu devido a "um amor exacerbado" e "para além dos limites", tendo-se dado o homicídio no calor de "uma discussão violenta". Tudo porque José constatou que, um ano após a separação do casal, Cidália, empregada fabril de 31 anos, já tinha iniciado nova relação. Por isso, o advogado de defesa pede o enquadramento num crime de homicídio simples, que pode representar uma pena entre oito e 16 anos de prisão. A advogada da família de Cidália entende que o crime foi planeado e executado de forma "atroz e sem arrependimento", pedindo pena máxima por homicídio qualificado.
O julgamento, que durou apenas dois dias, realizou-se no tribunal de Ponte de Lima, e a filha do casal, Micaela, de 14 anos, que também estava arrolada como testemunha, escusou-se a prestar declarações - por videoconferência-, exatamente devido à relação familiar. Entretanto, a defesa já avançou com um pedido ao tribunal para que autorize o cumprimento da pena a que vier a ser condenado na Suíça, com José Luís Carvalho a dizer querer "estar perto" da filha, que continuou a residir naquele país (onde nasceu), com familiares, após o homicídio da mãe. Apesar de ter confessado o crime, José negou perante os juizes que tivesse planeado ou que fosse sua intenção assassinar a ex-mulher, mesmo que alguns dos tiros tenham sido feitos a dez e vinte centímetros do corpo desta, um dos quais trespassando o coração, quando tentava fugir, de carro. "Não contei os tiros que disparei, nem pensava que aquela arma podia matar. Não era a minha intenção, eu não queria matá-la", afirmou perante o tribunal.
O português é acusado de ter disparado sobre a ex-mulher, após dez anos de violência física e psicológica, que conduziram à sua detenção por três vezes. Durante o julgamento confessou andar "sob tensão" por saber do novo relacionamento da ex-mulher, mas garantiu que a única "preocupação" era "saber da filha". Ainda assim, quando foi ter com Cidália levava uma arma de fogo. O crime ocorreu a 4 de julho de 2012 junto à estação ferroviária de Schübelbach-Buttikon, Suíça, e o português esteve fugido durante 21 dias. Acabou por entregar-se à Polícia Judiciária, confessando o crime, estando há 18 meses em prisão preventiva em Braga. Antes de fugir deixou uma carta confessando a autoria do crime, com expressões como "Matei a Cidália, o amor da minha vida" ou "Eu matei-a porque gostava muito dela". Apesar de se ter deslocado a Portugal para comprar a arma, insistiu que nunca planeou o crime.
Diário Notícias | Segunda, 30 Dezembro 2013